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Na folha seguinte, vejo mulher que tentou subtrair bebês de uma maternidade. Mas vai responder processo em liberdade. O juiz da Vara Criminal e Tribunal do Júri de Brazlândia concedeu liberdade provisória a Luciete Moura dos Santos, que na quinta-feira, dia 20, teria tentado subtrair dois bebês do Hospital de Brazlândia. A pessoa responderá ao processo em liberdade. Fará o pagamento de fiança de R$ 3 mil. Deverá comparecer semanalmente ao juízo para informar e justificar suas atividades. Terá o dever de recolher-se ao domicílio no período noturno, salvo por necessidade de trabalho ou estudo. Está proibida de ausentar-se do Distrito Federal, sem autorização do juiz e de adentrar qualquer maternidade, salvo por razões médicas ou de socorro.
Em nosso país é assim. Um comete crime famélico. Tenta jantar uma galinha e é preso. Petições correm no fórum local. Vão para a capital do Estado. Acabam em Brasília. Tudo por causa de uma galinha, que nem mesmo chegou a ser furtada! Mulher tenta apoderar-se de dois recém-nascidos, que não são seus. Fica em liberdade, como se, com isso, não voltasse a tentar fazer das suas.
As explicações que acompanham o acontecido têm a pretensão de parecerem profundas, mas, na verdade, nem mesmo são bem fundamentadas. Afinal, toda verdade é, segundo dizem, subjetiva. E toda culpabilidade é relativa.
Consideremos o tempo e o dinheiro investido nisso tudo. O palavreado empolado. A falta de objetividade. E o resultado: um coitado no xadrez, por bom tempo. E uma pessoa mal intencionada, solta, sem maiores consequências, pronta para aprontar.
Está tudo fora de foco.
Vivemos, aqui, o momento da trégua da moral e a vitória do desvario. As regras em vigor levam a resultados absurdos. São homens e mulheres públicas que desviam dinheiro. Enriquecem-se, rapidamente. Descobertos, no máximo, perdem o cargo. E não imediatamente. E o dinheiro desviado continua a compor o patrimônio daquele que bancou o esperto. Há um ex-ministro que, num passe de mágica, multiplicou seu patrimônio. Apenas perdeu o cargo. Não perdeu a dinheirama, de, no mínimo, sete algarismos antes da vírgula… Quando coisas assim acontecem —— e acontecem todo dia, só que a gente fica sabendo de quando em vez ——, eu me pergunto: e os impostos devidos sobre os ganhos de porte estratosféricos? São informados a quem de direito? Como se o óbvio precisasse ser explicado…
Mas por que isso é assim? Porque nossa gente é indulgente. Tem memória fraca. Nem mesmo reage. Não cobra condutas. Por outro lado, os fabricantes das normas são os maiores interessados em que o sistema não funcione, eis que, dia poderá vir, em que eles próprios poderão vir a ser alcançados pelas medidas idealizadas…
Esse absurdo é um gigante implacável, mas não é fruto de minha imaginação. O fato é que ele evoca a Revolução dos Bichos, monumental obra do George Orwell, que todo mundo deveria ler. Lá está, não exatamente nestas palavras, mas neste tom: todos são iguais perante a lei, só que alguns são mais iguais que os outros.