Vítimas de plantão

Getúlio, ao se suicidar, alojou-se no quadro de vítima por excelência. Deixou a carta-testamento, acusando hipotético e  monumental complô contra ele e seu governo.

Jânio, quando renunciou, acusou forças poderosas —— consagradas como  “forças ocultas” —— que se uniram para massacrá-lo. Assim,  na condição de vítima, viu-se forçado a renunciar.

Collor também curtia o roteiro do perseguido de plantão. “Eles querem acabar comigo!”. «Eles» quem? Eles, os integrantes das elites, prejudicados pelas medidas tomadas por seu governo, em favor dos descamisados, pelo fim dos privilégios empresariais contra a corrupção.   E arrematava suas falas públicas com o “não me deixem só!” Era, em sua própria fala, vítima de  complô, de golpe.   Denúncias de corrupção política,  envolvendo  seu  tesoureiro, Paulo César, o PC,  feitas por Pedro Collor de Mello, seu irmão, culminaram com o seu  impeachment. O processo, antes de alcançar seu ponto final, viu  o então presidente renunciar. Collor ficou inelegível durante oito anos.

Ser vítima rende simpatia popular.  A vitimização procura explorar  os mais nobres sentimentos de nossa gente.

Leonel Brizola sempre se declarou perseguido pelos opressores, patrocinados pelo capital estrangeiro.

Jânio, Getúlio, Collor e Brizola assumiram o papel de vítimas. Afinal, ser isso  rende prestígio.

Com Dilma e Lula não tem sido diferente. Eles se vitimizam. “Somos vítimas de golpe”. Pronto! E como essas declarações surtem efeito!

Lula —— com sua habilidade inconfundível, capaz de tirar as meias sem retirar os sapatos ——  irá a pé, declarou,  até às dependências do foro de Curitiba, caso encontrem algum documento que o incrimine. Isso me lembra charge, publicada em revista de humor, onde o prisioneiro, de roupa listrada, indaga do policial  diante da cela:  “onde estão as provas?  Onde está o recibo assinado por mim, ao assaltar  o banco?”

Circula  o informe de que Lula fará greve de fome: para  a cadeia ele não vai! É a vitimização permanente  em marcha acelerada.

E o povo crê. Instrumentos poderosos não são de muita serventia se não tivermos  boa ideia de onde  usá-los. A gente pode encontrar a melhor motosserra já inventada e entrar na floresta.  O que vamos  fazer com ela? Se soubermos quais as árvores que vamos cortar e por quê, estaremos no controle da situação. Se não soubermos, temos  instrumento fabuloso que não nos serve para coisa alguma. É o caso do eleitor e seu voto, no momento da trégua da moral e a da vitória do desvario.

Creio que palavras têm sido jogadas ao léu em quantidade expressiva. Partamos de exemplo singular. Sujeito vai a um consultório. Seus dentes não são tratados. Doem. Apodrecem. Unidades  que eram íntegras também perdem sua higidez. E o profissional encarregado de dar conta do tratamento explica-se com milhões de palavras.  Para quê? Basta medir  a postura  do encarregado  pelo resultado. Qual foi sua atuação ou sua omissão? Resultou em quê? Por quê? Essas as respostas que, mudando o que deve ser mudado, devem ser obtidas dos homens públicos.

Por outro lado, se numa empresa, coisas inadmissíveis são feitas, o gerente não pode simplesmente dizer “eu não sabia de nada”. Há aí responsabilidade, a responsabilidade objetiva.

Gilberto Dimenstein escreveu (Como Não Ser Enganado Nas Eleições, folha nº 51, Editora Folha): “é comum as pessoas chegarem ao poder e se comportar como se aquilo tudo fosse delas. E não, nosso. Eles foram eleitos, assim pensam  e agem,  para se beneficiar do patrimônio público”. E é por isso que deles emana esse cheiro morno e mole, que tanto surpreende e enoja. Não podem, em hipótese alguma, usar recursos a seu favor, mas exclusivamente em benefício da comunidade.

Consigne-se que qualquer ex-presidente pode levar, ao deixar o cargo,  seus objetos e documentos, aí incluídos determinados presentes recebidos ao longo do mandato. Mas há regras! Presentes dados por cidadãos, empresas e entidades ficam com o ex-presidente. Presentes dados por representantes de outros países em cerimônias oficiais ficam com a União. Estes podem permanecer no Palácio do Planalto ou serem direcionados para o Arquivo Nacional e o Museu da República, no Rio.

E  Lula,  para  mudar  de residência, com sua compulsão pouco benigna pelo exibicionismo,  segundo o Globo, de 27.01.11, foram necessários 11 caminhões para transportar, entre outras coisas, os milhares de presentes que ele recebeu durante seus oito anos de Governo”. E mais adiante: “Na mudança foi necessário   caminhão refrigerado para transportar  centenas de garrafas de vinhos e de cachaça que Lula recebeu durante seus  anos de governo”.

Isso é que é ser vítima!

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